quarta-feira, 9 de março de 2011

YES, NÓS TEMOS POESIA (PRA QUEM?)

Quem tem boca vai em cana
Quem é o padroeira da pala?
Quem é o santo padroeiro da revolta?

Estou cansado da cultura de possibilidades impossíveis
De possibilidade inauditas

Estou cansado de conveniências obcenas
De normalidade absurda
De racionalidade extremada 
Irracional razão

Estou cansado do aviãozinho que não decola
Da barca que naufraga

Quem tem alma não bate palma
Pois sua arte não está em cartaz

Quem tem amor no peito colhe desprezo
E não é pra variar

Estou e me restou
Cansado da desutopia
No trópico pseudo-tropicalista, 
eu, poeta esfomeado de amor
De posse de tíquetes vencidos para o direito de ir e vir no coração dos homens

Yes, nós temos banana
Yes, nós temos poesia
Pra ninguém ler
Nem publicar
Yes, nós temos visão musical
Pra ficar apenas na retina dos ouvidos
No, não temos revolução não televisionada
Ou será que temos?
Por ora sou o único alistado
No, no, não temos amor
O afeto é algo pelo qual se paga muito caro e arbitrário
Tem que ter carro
Ser bombado
Ser um conveniente
Chefe de turma
Status

Quem, homem de sensibilidade, poesia, musicalidade 
e autêntico
Colhe desprezo do sexo cada vez mais fresco, fútil e cada vez menos frágil
Junte-se a mim em um poético motim
Quem tem amor pra dar
Fruta que dá o ano inteiro
E colhe desprezo
Fruto que dá o ano inteiro
Debaixo de chuva e sol
Inverno e carnaval
Sem guarda nem chuva de beijos
Sem Caetano pra apadrinhar

Yes, nós ainda temos amor e poesia no peito
Até quando?
E mesmo quando dançamos, 
nós acabamos dançando
Decolando sem sair do lugar

Sem sair dos planos
Por debaixo do pano
Escondendo a mágoa e o desgosto
e se pudéssemos não nos varreríamos pra debaixo desse tapete majestoso

Yes, nós somos pró-capital
Yes, nós somos pró-lixo
Damos tiro no pé em apoiar uma democracia em nada democrática

Sem ONG pra nos reciclar
Yes, salve as baleias que estão sem dieta
Salve as tartarugas sem pressa

Sigamos um bom exemplo
No mundo de fôrma, que deforma nossa correria insana
Em atitudes mecânicas
Conveniência na lata
Padronização de gestos e atitudes
Silêncio pontual
Bossal indiferença no tráfego de amizades

E salve sobretudo os poetas e românticos
Espécie ameaçada de implosão

Tombe esse patrimônio: a sensibilidade
Ameaçada pela governanta Indiferença
Ninguém dá bola

Salve a sensibilidade do jovem, adolescente, criança
E do adulto teimoso em ser sensível
Em não jogar papel fora do lixo

E quando todos os seus pares o desertarem e já nascerem cabelos brancos na sua cabeça não branda
E nascer pêlo no umbigo
Salve a utopia!
Que não morreu há 40 anos na França De-Gaulle-ada
De-Gaulle-ada
Salve o instinto coletivo
Ameaçado pela educação careta universitária
Pela classe de psicólogos e psiquiatras 
que estão imunes de receberem de um filósofo sadio 
um diagnóstico preciso 
pra sua rigidez retórica
Psicólogos e psiquiatras que dizem o tempo todo:
Se adapte ao mundo
Seja conveniente
Segure sua bronca e solidão
E tome tarja preta

Salve o instinto de utopia
Ameaçado pelos colegas sem imaginação no lazer
Que só se encontram quando há bar
E conversa pra jogar fora
Tomam cachaça barata
E te olham assustados se você falar de flores
Em tempos em que a ditadura está na mente
Na conveniência, no consumismo, 
na partilha do álcool sem assunto

E por falar nisso
Salve o mendigo bêbado e lírco
Que você ignorou, fedendo, aí do seu lado

Yes, nós temos poesia (pra quem?)
Pra ficar guardada no blog
Pra todo mundo ignorar no facebook
Pra não trazer nem reconhecimento no Sarau Vira-Lata
Pra não ser publicada
Pra não ser musicada

SKELTER - 8-11-2008

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