Quero novamente os jovens nas praças
Oferecendo flores aos guardas
Quero novamente os jovens nas ruas
A memória do avesso do avesso nua
Que delicada celebra pequenos feitos
E não se cala diante de censuras caducas
Meninos nascendo da orgia
Feita na chuva e lama de um consagrado festival
Um Woodstock sem fim nem começo
Roupas coloridas místicas
Compondo o carnaval de infinitos estilos
Queimar num mutirão sutiãs e roupas íntimas
De um passado vergonhoso e moralista
Recitar o poema que abençoa a violência do coração
Contra o que é deveras sólido e grave
Banhar no rio em que nos esquecemos do nomes
Para reaprender o que somos
Ao sabor do vento e das flores
Pintando o quadro da vida e do amor
Em um êxtase sem pressa e duradouro
Assassinar o relógio que repousa no coração do mundo
Um ato terrorista contra o relógio que monta guarda na superfície do meu rio
Que corre infinito por vias
Rotas alteradas
De cardumes de amor, de espasmos
E ano a ano celebrar uma festa ao pé do túmulo da saudade
Quero abençoar o casamento da luz com a poeira
Da beatitude e do efêmero
Dançar pra afastar as nuvens
Que carregam o sangue dos antepassados
Mortos em batalhas sem razão
Feitas do cumprimento de missões estéreis,
Religiões caducas
Moral do trabalho sem coração
Violar a academia com o perfume jovem
Inocentar os escorpiões e serpentes
Tragar a fumaça de ondas místicas
Do contato direto com Deus pela Arte & Natureza
Moralismo e consumismo
Um dia banidos da graça onipresente da dança
Não viver pelo dever
Nem o dever de ser feliz
Ser triste se quiser
Mas ser sobretudo autêntico e amoroso
Ser uma ponte para o mundo em que toda criança tem um reino
E o homem se orgulhe de ser descendente de uma árvore
O novo educa o velho
Tem sido desde o fim esse princípio
Sede de viver, de criar e renascer
Reconstruir das ruínas de um mundo caduco
Uma aldeia sem fronteiras e países
O nobre cubra de cinzas o altar do progresso insustentável
O homem ore para o Deus subversivo
Que mora nas montanhas altas como a coragem de um falcão
Que mora nas fontes de água límpida como a mente aberta
E o homem distancie-se das orações ao deus moralista
Que mora no amor ao temor,
Na conversão do íntimo a pecado
E do prazer a constrangimento
Minha revolução não se compactua com o eterno Amanhã
Nem da Ordem, do Progresso nem do Paraíso Celestial
Minha política não se projeta com sangue, suor e lágrimas
Que de lutas inflamadas por slogans
Estamos devorados
De lutas orquestradas por partidos e corações ressentidos
Estaremos fadados a uma loucura estéril
Não há perda em amar e criar laços no instante
O Aqui-Agora é morada da grande e única mudança
Individual é a mudança, repercutida no coletivo
A espontaneidade e o amor ditam a obra
Ecologia e poesia na ordem do dia
A educação flui do afetivo para abraçar conexões complexas
Matemáticas, tecnologias de baixo custo
Banquetes anarquistas filosóficos, estéticos
Arautos de uma gaia ciência
Que não lesa a natureza
Divina como um pote de mel
Dialética como um vento na curva da estrada
Como círculo que se expande na água
Quando se lhe atira uma pedra
Todo círculo está fadado a se expandir e se desfazer
Que nenhuma mudança se pretenda permanente
Que nenhuma lei se pretenda imutável
E mudanças sutis e amorosas componham o palco terno de uma vida libertária
Em comunhão com o Sol e as estrelas
Em atino com o relógio do corpo
Com as estações caóticas do inconsciente
Com a força não represada do instinto
Com a saliência de uma razão que não se pretende o único farol
Com o poder inquebrantável da comunhão
Amem
SKELTER - 6-11-2006
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