domingo, 20 de março de 2011

MELÔ DO DINHEIRO

Oh Dinheiro
Vou abordar a vida
E quero que você seja minha compainha
Grana, grana
Seja cúmplice na trama
Seja meu dono, seja minha dama
Rainha dos vícios
Lícitos e ilícitos

Dinheiro permita-me viver e deixar morrer
Permita-me uma morte com pompa e circunstância
Após uma vida de excesso e indulgência
Dinheiro permita-me ser mais experimental do que abstrato
Mais pragmático que teórico
Mais adaptado que redigindo manifestos
Me dê o direito de quebrar a cara de verdade e me desiludir
Com vivências intensas em vez de voos na rotina
Dinheiro deixe minha garota ir embora pois estou sentado no topo do mundo
Permita que sem burocracia eu diga orgulhoso I don't care, je ne regrette rien

Ô saco
essa vida de migalhas
sapos, aventuras vãs
Mergulhos efêmeros
despojadas esperanças, irmãs da descrença
expectativas noturnas de cara limpa
sem nicotina
sem beijo na boca
Resistindo teimoso até madrugada
sem carona esperando meu Mercedes lotado
com pivetes me encarando do outro lado da rua
desejo de ir
ao show
de dar um show
Do lado de fora eu escuto e é gol, gol
Um lugar apertado na arquibancada ou geral
Teatro dos resignados, contraindo um efeito moral
Lendo sobre a vida que passa no jornal
A TV como entidade maior de comunhão
Chorando desconto, catando moedas no chão
Ah vida loka
repleta de possibilidades impossíveis
Sonhos, vertigens,
cheios de limite, sem convite
Loucuras sem patrocínio
Devaneios sem abrigo
Quero ter direito à monumental ressaca
Eu também quero gozar
Eu também quero Mick Jagger
Eu também quero Iggy Pop
Eu também quero santos ídolos do excesso que beijaram a morte aos 27
Oh lua cheia
de merda, mais uma vez sua luz me ilude ilesa
Eu também quero viajar para todos os sentidos
Eu também quero me chapar e não ficar enrustido
Eu também quero desfilar com roupas desleixadamente caras
num carro vintage ao som de um dinossauro do rock
que em vez da poluição do fake carioca
toque o submarino amarelo
nas ruas que transbordam seu apelo
Me deixe ficar alto dando uma volta sábado
Por essas esquinas que abrigam especulação sexual, euforia e demandas reprimidas
Quero em vez de roupas usadas do meu irmão mais velho,
trajes sob medida, customizados, da grife que leva meu nome
Eu também quero me vender
Quero ser um produto
Oh droga
de não possuir droga nenhuma
Oh Dinheiro
Dê um jeito no meu cabelo que cai
Infla de músculos meu corpo esquálido
Me dê um olho de cada cor
Me faça até andar diferente
Já chamei meus amigos pra festa
Disseram que estão sem dinheiro
Empolguei demais, quanto deu a conta?
Vamos rachar mas intera a minha grana
Oh Dinheiro
Legitime meu direito
de ir e vir
Pode ser de Nova York a Nova Délhi
Ou só pra ir de carro até a esquina
Oh Dinheiro
Não é por um minúsculo voto e um direito de expressão sem mídia
Que uma cidadania é plena
Um cidadão só é um pleno cidadão enquanto consumidor
Faça-me importante para o sistema
Sentado sem fazer nada à beira da praia
Mas circulando a moeda, incentivando no mercado a oferta
A principal função social não é trabalhar, é consumir
E eu que dou duro pra ganhar um salário de miséria,
Valho menos que um vagabundo com nota
Oh Dinheiro
Nunca ganhei de você um tapinha nas costas
Que te fiz de mal?
Por que não nos encaramos olhos nos olhos?
Façamos um trato
Eu te juro ser aliado da grã-ordem capitalista
E você autentica minha complacência
Juntos iremos combater o desemprego
Com um empregado para cada capricho
Faça-me sentir um rock star
Torne real meu alter ego
Ponha-me na coluna social
Faça-me irreconhecível pra mim mesmo
Oh Karma
Oh Dharma
Oh Dinheiro
Onde estás que não me ouve?
Quer me converter
num ateu
num socialista
num anarquista
num beat
num hippie
num punk
num terrorista?
Num funcionário público com estabilidade?
Quer me converter num ladrão
Num operário padrão
Num suicida com um bilhete escrito loser?
Oh Dinheiro
Minha arma está carregada
Minha alma tem ressentimento
Meu espírito sente inveja
Odeio celebridades porque não compartilhamos do mesmo karma
Nem tenho um mísero papel nesse teatro de vampiros
Oh Dinheiro
Você é o maior afrodisíaco
Com você não passo as noites sozinho - na cama
E nem me importo em ser amado pela grana
Dinheiro
Seja a minha religião pagã
Meu fantasma trafega sem fé
E o paraíso é mais embaixo
Converta a desgraça
em alguma forma
de graça
DE GRAÇA


SKELTER - 20 março 2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

UTOPIA (QUERO OS JOVENS NAS RUAS)

Quero novamente os jovens nas praças
Oferecendo flores aos guardas
Quero novamente os jovens nas ruas
A memória do avesso do avesso nua
Que delicada celebra pequenos feitos
E não se cala diante de censuras caducas

Meninos nascendo da orgia 
Feita na chuva e lama de um consagrado festival
Um Woodstock sem fim nem começo

Roupas coloridas místicas
Compondo o carnaval de infinitos estilos

Queimar num mutirão sutiãs e roupas íntimas 
De um passado vergonhoso e moralista

Recitar o poema que abençoa a violência do coração 
Contra o que é deveras sólido e grave

Banhar no rio em que nos esquecemos do nomes
Para reaprender o que somos 
Ao sabor do vento e das flores
Pintando o quadro da vida e do amor
Em um êxtase sem pressa e duradouro

Assassinar o relógio que repousa no coração do mundo
Um ato terrorista contra o relógio que monta guarda na superfície do meu rio
Que corre infinito por vias
Rotas alteradas
De cardumes de amor, de espasmos

E ano a ano celebrar uma festa ao pé do túmulo da saudade

Quero abençoar o casamento da luz com a poeira
Da beatitude e do efêmero

Dançar pra afastar as nuvens 
Que carregam o sangue dos antepassados 
Mortos em batalhas sem razão
Feitas do cumprimento de missões estéreis, 
Religiões caducas
Moral do trabalho sem coração
Violar a academia com o perfume jovem
Inocentar os escorpiões e serpentes
Tragar a fumaça de ondas místicas
Do contato direto com Deus pela Arte & Natureza

Moralismo e consumismo
Um dia banidos da graça onipresente da dança
Não viver pelo dever
Nem o dever de ser feliz
Ser triste se quiser
Mas ser sobretudo autêntico e amoroso

Ser uma ponte para o mundo em que toda criança tem um reino
E o homem se orgulhe de ser descendente de uma árvore

O novo educa o velho
Tem sido desde o fim esse princípio
Sede de viver, de criar e renascer
Reconstruir das ruínas de um mundo caduco
Uma aldeia sem fronteiras e países

O nobre cubra de cinzas o altar do progresso insustentável
O homem ore para o Deus subversivo
Que mora nas montanhas altas como a coragem de um falcão
Que mora nas fontes de água límpida como a mente aberta

E o homem distancie-se das orações ao deus moralista
Que mora no amor ao temor,
Na conversão do íntimo a pecado 
E do prazer a constrangimento

Minha revolução não se compactua com o eterno Amanhã
Nem da Ordem, do Progresso nem do Paraíso Celestial

Minha política não se projeta com sangue, suor e lágrimas
Que de lutas inflamadas por slogans
Estamos devorados
De lutas orquestradas por partidos e corações ressentidos
Estaremos fadados a uma loucura estéril

Não há perda em amar e criar laços no instante
O Aqui-Agora é morada da grande e única mudança

Individual é a mudança, repercutida no coletivo

A espontaneidade e o amor ditam a obra

Ecologia e poesia na ordem do dia

A educação flui do afetivo para abraçar conexões complexas
Matemáticas, tecnologias de baixo custo
Banquetes anarquistas filosóficos, estéticos
Arautos de uma gaia ciência

Que não lesa a natureza
Divina como um pote de mel
Dialética como um vento na curva da estrada

Como círculo que se expande na água 
Quando se lhe atira uma pedra
Todo círculo está fadado a se expandir e se desfazer
Que nenhuma mudança se pretenda permanente

Que nenhuma lei se pretenda imutável
E mudanças sutis e amorosas componham o palco terno de uma vida libertária 

Em comunhão com o Sol e as estrelas
Em atino com o relógio do corpo
Com as estações caóticas do inconsciente
Com a força não represada do instinto
Com a saliência de uma razão que não se pretende o único farol
Com o poder inquebrantável da comunhão
Amem


SKELTER - 6-11-2006

quarta-feira, 9 de março de 2011

YES, NÓS TEMOS POESIA (PRA QUEM?)

Quem tem boca vai em cana
Quem é o padroeira da pala?
Quem é o santo padroeiro da revolta?

Estou cansado da cultura de possibilidades impossíveis
De possibilidade inauditas

Estou cansado de conveniências obcenas
De normalidade absurda
De racionalidade extremada 
Irracional razão

Estou cansado do aviãozinho que não decola
Da barca que naufraga

Quem tem alma não bate palma
Pois sua arte não está em cartaz

Quem tem amor no peito colhe desprezo
E não é pra variar

Estou e me restou
Cansado da desutopia
No trópico pseudo-tropicalista, 
eu, poeta esfomeado de amor
De posse de tíquetes vencidos para o direito de ir e vir no coração dos homens

Yes, nós temos banana
Yes, nós temos poesia
Pra ninguém ler
Nem publicar
Yes, nós temos visão musical
Pra ficar apenas na retina dos ouvidos
No, não temos revolução não televisionada
Ou será que temos?
Por ora sou o único alistado
No, no, não temos amor
O afeto é algo pelo qual se paga muito caro e arbitrário
Tem que ter carro
Ser bombado
Ser um conveniente
Chefe de turma
Status

Quem, homem de sensibilidade, poesia, musicalidade 
e autêntico
Colhe desprezo do sexo cada vez mais fresco, fútil e cada vez menos frágil
Junte-se a mim em um poético motim
Quem tem amor pra dar
Fruta que dá o ano inteiro
E colhe desprezo
Fruto que dá o ano inteiro
Debaixo de chuva e sol
Inverno e carnaval
Sem guarda nem chuva de beijos
Sem Caetano pra apadrinhar

Yes, nós ainda temos amor e poesia no peito
Até quando?
E mesmo quando dançamos, 
nós acabamos dançando
Decolando sem sair do lugar

Sem sair dos planos
Por debaixo do pano
Escondendo a mágoa e o desgosto
e se pudéssemos não nos varreríamos pra debaixo desse tapete majestoso

Yes, nós somos pró-capital
Yes, nós somos pró-lixo
Damos tiro no pé em apoiar uma democracia em nada democrática

Sem ONG pra nos reciclar
Yes, salve as baleias que estão sem dieta
Salve as tartarugas sem pressa

Sigamos um bom exemplo
No mundo de fôrma, que deforma nossa correria insana
Em atitudes mecânicas
Conveniência na lata
Padronização de gestos e atitudes
Silêncio pontual
Bossal indiferença no tráfego de amizades

E salve sobretudo os poetas e românticos
Espécie ameaçada de implosão

Tombe esse patrimônio: a sensibilidade
Ameaçada pela governanta Indiferença
Ninguém dá bola

Salve a sensibilidade do jovem, adolescente, criança
E do adulto teimoso em ser sensível
Em não jogar papel fora do lixo

E quando todos os seus pares o desertarem e já nascerem cabelos brancos na sua cabeça não branda
E nascer pêlo no umbigo
Salve a utopia!
Que não morreu há 40 anos na França De-Gaulle-ada
De-Gaulle-ada
Salve o instinto coletivo
Ameaçado pela educação careta universitária
Pela classe de psicólogos e psiquiatras 
que estão imunes de receberem de um filósofo sadio 
um diagnóstico preciso 
pra sua rigidez retórica
Psicólogos e psiquiatras que dizem o tempo todo:
Se adapte ao mundo
Seja conveniente
Segure sua bronca e solidão
E tome tarja preta

Salve o instinto de utopia
Ameaçado pelos colegas sem imaginação no lazer
Que só se encontram quando há bar
E conversa pra jogar fora
Tomam cachaça barata
E te olham assustados se você falar de flores
Em tempos em que a ditadura está na mente
Na conveniência, no consumismo, 
na partilha do álcool sem assunto

E por falar nisso
Salve o mendigo bêbado e lírco
Que você ignorou, fedendo, aí do seu lado

Yes, nós temos poesia (pra quem?)
Pra ficar guardada no blog
Pra todo mundo ignorar no facebook
Pra não trazer nem reconhecimento no Sarau Vira-Lata
Pra não ser publicada
Pra não ser musicada

SKELTER - 8-11-2008

ORAÇÃO AO SOL

                                               "Sei que nada será como está
                                                Amanhã nem depois de amanhã
                                                Resistindo na boca da noite
                                                Um gosto de sol"
                                               (Milton Nascimento / Ronaldo Bastos)

Sol
Dispersa essas nuvens de manhã
Ofereça teus raios claros
Banhe-me de bênção e carícia 

Chegue-se de mim
Toque meu corpo teu fulgor
Que não gasta nem se esforça
Envie teu calor
Criva de raios minha crista
Sou tua sentinela
De áurea energia me anima

Mande-me do céu
Tal qual um deus que liberta
Como a chuva que afaga
Tal qual uma cura:
Total afeição
Pra que eu luza na escuridão
Pra acender o meu brasão
Pra que eu vigore ns dias de estio
Para que eu brilhe no escuro e entre seres de breu

E não me mostre o caminho
Que é perto, que é longe
Definir - indefinido
É amplo, infinto
Que eu sei por ti - Iluminado


Na aurora me desperte
Acordo contigo no belo horizonte
Quando se põe, declamo versos
Me deito quase só,
Peito de fogo e de beijos
Da fonte imaculada de teu seio

Milagre da vida - tu realizas
E ao cantar terias
A voz de Milton                                       
Sinuosas montanhas de Minas

Quando ainda diurno
Entrego-me na calçada,
Calor, vento, nuvens
Tu Astro Dourado trajado de amarelo
Dá-me o gosto saudoso da criança
Estado bruto da amoral infância

Teus olhos sobre mim não me afugentam
Como o deus da morte ou da manada
Antes confortam, silenciam
sei que sabe de tudo
-teu fogonão sabendo de nada
-sem julgo



Skelter - 11-7-2008

sexta-feira, 4 de março de 2011

POR QUE NÃO VENDER A MORTE - a Rogério Skylab

Por que não vender a morte?
Se ela é legal
Se ela é tão banal
Se tantos querem
Por que não vender a morte

Picado cigarro
Veneno letal
Bomba de hidrogênio
Efeito moral
O bem e o mal
Quarto poder
Presunto no jornal

Por que não vender a morte
Se ela é legal
Se ela é tão banal
Se tantos querem

É tão banal
Mendigo na praça
Ambulante no sinal
Aborto elétrico
Mulher pelada
Fofocas do astral
Sufoco a crediário
Caixão garantido
Plano B de saúde

Por que não vender a morte
Se ela é legal
Se ela é tão banal
Se tantos querem

Vermelho ou azul
Escolha sua pílula
Aquecimento global sem filtro

Rap com fome
Hardcore no máximo
Glicose no talo
Diabete diabina
Por que não vender morfina?
Sexy e toxina
Cocaína diluída
Cannabis sativa
Junk pros pedreiros
Herói e Heroína
Imita Keith Richards

Por que não vender a morte
Se ela é legal
Se ela é tão banal
Se tantos querem

Aperto de mão
Tapinha nas costas
Chute do patrão

Cachaça de 1 real
Fast food
Fast life
Morra jovem
Coma alcoólico
Sexo sem camisinha
Decolar no carnaval

Morte cerebral
É novela e hollywood
Big brother e William Bonner
Eutanásia a prestação

Indústria pornô infanto-juvenil
Indústria da fome
Salário mínimo
Aluguel atrasado
Cigarro sem filtro
Esgoto sem sanítário

Por que não comprar a morte
Se ela é legal
Se ela é tão banal
Se tantos querem

Skelter - 13-1-2011

UM PONTO DE VISTA PESSIMISTA SOBRE O AMOR

Não existe amor como idealiza-se
O que existe é cooperação
União de dois seres fortes ou fracos que se identificam na ferida
Não existe amor
O que existe é contrato
Não existe amor
O que existe é solidariedade orgânica
Não existe amor
O que existe é medo de solidão, de desamparo, convertido em afeto
Não existe amor
O que existe é propaganda religiosa
Não existe amor
O que existe é ideologia muleta ressentida
Ou vaidade intelectual que projeta o inconsciente pra se sentir superior a quem "não ama de verdade"
Não existe amor
O que existe é libido
Não existe amor
O que existe é mito, fantasia, refúgio de presas
Não existe amor
O que existe é vingança contra o desafeto,
Conspiração contra o egoísmo do mais forte
Não existe amor
O que existe é dificuldade de sentir poder ou segurança diante do outro
Ou autenticidade de homem vil ou dificuldade de libido
Os valores de "amor" e da "humildade"
Servem muito mais para os fortes domesticarem os homens
E sua sede de conspiração
E aos fracos a se adaptarem à sua vida de formiga
Domesticam sua potência, a vitalidade que vem da sua agressividade, instinto, libido, Energia
Servem pra dividir o homem
Para que ele não aja como um lobo do homem, que ele de fato é
O amor é uma coleira pra não ameaçar morder o poder nem desestabilizar ao bel-prazer o casal onde o elo é inseguro
A melhor forma de subjugar um inimigo
É inventar um outro inimigo para ele
Um inimigo interno
Assim se subjuga sua força com sua esmerada e afetada delicadeza
Assim o inimigo dispersa sua ENERGIA
Lutando contra SI MESMO
Em vez de ter unidade, consciência de si animal
De sua natureza, intuição, desejo e ambição
Coerência interna
Não existe amor
O que existe é poesia e sentimentalismo
Complexo de édipo mal resolvido
Pieguice
Catarse de um sofrimento prolongado solitário e projetado num outro
Reflexo no outro da própria ferida
Forma sutil ou grosseira de estoicismo
Forma sutil de ter o outro em seu laço, em seu cardápio
Modo de arrendar o coração alheio
Modo de perpetuar a espécie
De garantir o desenvolvimento da prole
Amor é um escudo
E pode ser uma lança contra os "maus poderosos e egoístas"
e os sensuais
Não existe amor
O que existe é um sentimento de fragilidade
E a criação de uma muleta para caminhar na selva de pedra
Onde cada um compete pelo seu espaço
O amor é um tratado de não agressão entre seres cansados
Em que decide-se alienar sua vontade de predador e idealizar a consciência do outro predador
Em troca de segurança, proteção, aceitação, aliança
Por fim, o amor é uma droga
Como cigarro, álcool e açúcar, vicia e mata

A VIDA COMO UM SOLO DE BLUES - homenagem a Jimi Hendrix e mestres do lamento negro

Estava pesado
Tenso
E pálido
Chegando em casa
Ouvi um lamento
Decidi dar um tempo
Lamento negro

"Neura 
Fala em  mim
Soa mais forte 
Que um solo de Jimi
E me console"
1000 decibéis de blues 
Minha calma angústia
A melodia da guitarra 
Penetrou na sala 
Coração cansado
Rabugento peito
Derreti horas a fio 
Lamento negro

Mestres do blues
Anti-herois de tez parda
Sinto a melodia
Colorir minha sala
Morra comigo blues
Minha cruz suaviza
Alma rebelde e cativa
Lamento negro

Relaxando a cuca 
Agindo devagar
Compasso 4 por 4
Uma coisa de cada vez
Prazer de viver
Celebração no cantar
Já não sou tão cativo
Lamento negro

Respirando tranquilo
Contagiado 
Pelo lirismo 
Pulsante, vivo 
Do solo de blues

(solo)

Vou sair de casa
Não volto tão cedo
Agora não sou tão só
Lamento negro

Preparo um drink
Sinto a brisa à janela
A vida está além 
De toda correria 
A vida está além 
Da paranóia
Sirva-se do meu peito
Esqueça a noite inglória
Lamento negro

"Perto do coração selvagem"
Ritmo introspecto 
Cada coisa segue seu pulso
Pensamentos, sentimentos 
No compasso desse blues
Lamento negro

Sem tanta pressa
Sem correria 
A consciência manifesta
Uma leveza
A consciência
Cumpre o dever com graça
E o olhar
Mais doce 
Tangencia 
Humanidade 
Em vez de urgência
Lamento negro

Seguindo meu ritmo
Nunca mais vou tirar 
Esse blues do meu peito
Nem me abandonar 
Esse canto negro

Venha o que vier
Desabe o céu
Seja violento
Convertam em inimigos
Sou mais compacto
Que um tufão
Uivo pra lua
Rastreio no chão
Lamento negro

Ainda que eu trema 

E tropece
Caminhando sereno
O que vem de dentro 
E age calmo
Fala soberano
Mesmo que tenha dor 
Ou fardo
Seja jovem ou velho
Lamento negro

E os solos de blues 

Que executar
Minha carência
Labuta e sina
Celebração da estrada
Cicatriz e sossego
Sem pressa, sem medo
Lamento negro

SKELTER - 16-6-2005

REDENÇÃO - dedicada a Cazuza (letra de música)

Baby, me dê uma receita
Pra acudir um cara tão careta
Os amigos todos ali
Na farra
Vivendo na marra
Eu tão deslocado
Pareço uma tara
E a vida
Nem se compara
Com isso que eu existo

Baby, eu não quero proteção
Acostumei-me com o não
E a solidão 
é só uma marca agora
O que eu preciso é ir à forra

Fora!
Com esse medo
Vá embora
Fora! 
de nada vale agora
Cutucar ferida
E pedir esmola

Baby, é tão absurdo o meu mundo
Mas eu sei, eu sei que no fundo
É só questão de eu agir
Se escancara,
Quebra a cara
E daí?
Vamos sair por aí!

E não,
Não há beco sem saída
Tudo tem preço
Tudo na vida
Mas eu sei que nada
Paga o tempo que passou
Nada é tão caro
Que mais vale ficar sentado
Braço cruzado
Acumulando uma loucura
Que não se cura
Não se iluda!

Baby, eu preciso de mim
Pra tomar atitude
Eu só preciso de mira

Baby,
seja ruim
comigo
Pois é só eu mesmo
Que posso me salvar
É só eu
No lar e no bar!

Eu vou à forra!
E essas caras que nem me olham?
Fora! com esse medo 
Vá embora
Muda! sem medo agora
A vida nunca deu esmola!!

Skelter - 10-7-97

quinta-feira, 3 de março de 2011

RELIGIÃO SEM RE-LIGAR

Sua religião é uma alienação
Seu não em riste pra tudo que traz prazer e sensualidade
Deus não exige sua oração caduca
E você não é cristão de verdade
Os tolos dizem que religião não se discute
Como futebol e política
Só se for entre pessoas sem argumento e mente aberta
Então lamente sua hipocrisia espiritual
Herança católica ou evangélica, judia ou mulçumana
Mais do mesmo
Farinha do mesmo asco
Orações em vão
Você consome Deus tão acrítico
Quanto vê TV  ou se droga complacente
Sua religião é em essência medo do desconhecido
Medo de Deus - coisa abominável
Temor a Deus - medonho e afetado
Deus deveria ser alvo de amor, amizade não medo ou temor
Temer a Deus é amar como um cão doméstico sujeito à ameaça, psicologia do vigiar e punir, compensa por bom comportamento na coleira
E você se orgulha disso
E pretensioso quer
Que outros professem sua fé
Sua religião é um fascismo organizado
Você torna, com sua devoção complacente, mais inútil o sacrifício de Cristo
Como espera amar ao próximo armado de um capitalismo ganancioso e uma atitude conformista?
Como ser cristão sem se interessar por política
Pois você deve amar a todos e ser justo, isso envolve política
Ao menos não blasfeme tanto
Seja cristão de verdade
São Franciso e Cristo eram quase revolucionários comunistas, anarquistas, hippies
Não tinham posse e comungavam da chuva e sol da natureza
Um ateu humanista e convicto está mais próximo de Deus que você
Você sustenta parasitas com seu dízimo
Parasitas travestidos de sacerdotes, padres e bispos
Pretensiosos que agem como donos da verdade
E têm sede de poder, até mesmo de representação no estado laico
Fé sem questionamento e filosofia não é fé de verdade, apenas fede
Assim como não querer saber de outros sistemas religiosos
Deus não mora no céu
Muito menos na igreja
Deus está na natureza
E repousa em seu silêncio
Mais que em sua histeria barulhenta chamada missa ou culto
Jesus era um rebelde e às vezes agressivo
Expulsou os comerciantes do templo
E os novos templos agoram comercializam Cristo
E o que quer fazer quanto a isto?
Baixando a cabeça para toda forma de poder
Rezando baixo e insistente pra apagar suas dúvidas e dívidas
Tal qual um ébrio faz com sua cachaça
Ser humilde não é ser submisso
Por que não construir um paraíso Aqui-Agora
Por que não deixar para os filhos
Para a próxima geração um legado menos triste e com menos fardo
E condenar a nudez e a sexualidade é um pecado contra Deus
Que a tudo isso fez perfeito e pra ser desfrutado como uma oração

SKELTER - 22-9-2006


VOCÊ NÃO É O ÚNICO A SE SENTIR UM ET - canção para um deprimido

Você não é o o primeiro a chorar quando deveria sorrir
A sorrir quando deveria chorar
Você não é o primeiro a não entender os fenômenos do seu corpo e mente
A entender os recados sutis e ora grosseiros que seu corpo te envia somatizado com sua mente
Você não é o primeiro a sentir que " não é metade do homem que costumava ser"
Você não é o primeiro a sentir paranóia por o que um estranho completamente alheio a sua vida pode ver em você
Você não é o primeiro a se sentir o último
Você não é o único a sentir que está apenas sobrevivendo
Você não é o único que está se sentindo regredindo a idade da pedra que não rola e cria musgo
Você não é o único a fantasiar em dar um fim a tudo
Você não é o único a se sentir covarde demais pra dar um fim
Você não é o único a viver numa época que pensa não ser a sua
A querer viver os tempos dourados
Você não é o único a se sentir na mesma vida  

Um retardatário e um gênio humano
Você não é o único a dar uma cabeçada na parede
Nem um soco na lateral de sua própria têmpora
Você não é o único a se esquecer de algo tão vital como respirar Como quem esquece como se anda de bicicleta
Você não é o único a se sentir um alienígena
Na sua escola, no seu trabalho, na família

Entre seus companheiros de sexo e "amor", 
Entre amigos, nos templos, na vizinhança, na mídia
Você não é o único a se sentir pelo menos uma vez com o sexo trocado ou com uma sexualidade zumbi
A querer passar uma borracha em todo seu passado, e se pudesse, também em seu presente e futuro
A desejar retroceder ao passado
Ao útero como salvação
(talvez qualquer útero salvador rs)
A se sentir alternadamente um superhomem e um superverme
A perceber que as drogas prescritas não estão funcionando
Nem as do médico, nem as do traficante
A sentir que não há um consenso em sua cabeça por absolutamente nada
A ansiar por tábuas de salvação, pedras utópicas, verdades absolutas, que te orientam do seu caos
que não aprendeu a converter em caos criativo
A se sentir um jovem velho
A se sentir indiferente a todos os códigos de comportamento e de afeto
A achar que as poesias, nenhuma ainda foi escrita pra você
A achar que as canções não cantam pra você
A sentir que não tem nada pra dizer sobre nada
A não querer ver nem seus melhores amigos, quando os têm,
Pois não quer que atestem em você sua indigência de ânimo e vitalidade
A sentir que não acresenta nada
A sentir que não há definição para o que sente
A desejar viver em uma ilha deserta
A agir hoje como se não fosse chegar o amanhã
A se sentir feliz apenas quando sonha, quando não tem pesadelos
A desejar que o sonho retome onde parou
E a amaldiçoar sua vida nos pequenos instantes que te separam do momento idílico do momento que desperta e olha o teto que te aprisiona
A amaldiçoar as grandes tradições sagradas que governam nossa sociedade: "Deus", famíla, dinheiro, sexo
A ter desperdiçado um ou mais milagres da vida quando os outros dizem que não existem milagres

Não, meu alter-ego, aprendi com você, te perdoo por tudo e sigo em frente, em busca de uma vida menos alienígena,
e uma vida menos ordinária
SKELTER - 9-3-2005

O MAL DO CAPITALISMO E SEU SISTEMA EDUCACIONAL

Capitalismo não é racional
Capitalismo não é lógico
Sua economia não é econômica
Pois competição gera desperdício de recursos humanos e matéria-prima
Agregados, cooperativos podemos produzir com a racionalidade
Que o capitalismo não tem
Desperdício de recursos
Recursos Humanos é Ferramentas Humanas
Cabrestos Humanas deveria se chamar
Pessoas são usadas
Não para pensar, amar seu trabalho, se expressar nele e criar
Mas apenas pra ajustar os parafusos da máquina
Auto-destrutiva
O meio ambiente é o grande tapete
Por onde o capitalismo varre debaixo sua sujeira
O capitalismo é o câncer da natureza
Crianças são educadas sem o convívio vital com a natureza

Pois o capitalismo em sua especulação imobiliária destrói os espaços verdes
Os índios com sua organização bem menos "científica e racional" são capazes de uma vida muito mais harmônica, desestressante e racional com seus recursos vitais e naturais
Cinzas de um mundo ávido por mais e mais
Produção
Produzindo pra quem?
Pra quem produzem tantos carros e eletrodomésticos e novas tecnologias e novas teses de mestrado?
Os homens que seguram o rojão produzindo produtos e carros
Não são os que ao fim do mês adquirem os produtos
E estão todos no fim endividados
Nossa consciência tentamos resgatar a pesadas prestações
E alto é o índice de juros
Pra fazer de nós o que o capitalismo exige:
Ter para ser, não ser para ter
O ser em si é algo que não existe para o capitalismo
O que existe é a ferramenta de trabalho e o consumidor
O capital sempre quer mais e mais
É uma criança mimada e sedenta
É um filho único, não reconhece ninguém como irmão
Nada sabe dividir
Aliás, o capitalismo é o Grande Irmão
O Big Brother, anunciado na obra 1984 de George Orwell
Capitalismo na essência é desarmonia
Ninguém que pense holístico pode pensar como capitalista
Capitalizando homens, bens e direitos
Porque não existem direitos iguais
Se não nascemos com as mesmas oportunidades
Nem mesmo o direito de pagar um bom advogado
Capitalismo é um grande cafetão legalizado, um traficante de peso
E somos todos filhos dessa puta
E somos todos malhados nessa droga
E dessa incessante labuta - eterna e não terna por um vício mais feliz



Capitalismo também é um padrão de pensamento
De sentimento, de comportamento
Veja suas ciências protetoras ou paternalizadas
Administração, Economia, Publicidade, Contabilidade, Direito, Moda
Formando sábados e soldados obedientes à ordem econômica, legal e social do Sistema
O Grande Pai ao qual são obedientes
Incluindo igrejas
E todo tipo de licenciaturas
Pegagogia, Letras, Medicina, Psicologia, Educação Artística e Física
A medicina capitalista não se preocupa em formar cidadãos preventivos e sadios
Preocupa-se com a existência de doenças e receitas caras de farmácia
A psicologia no capitalismo não tem a menor preocupação, ao contrário de psicólogos e intelectuais como Wilhelm Reich e Marcuse, de formular uma visão crítica do capitalismo em seus pacientes

Antes é conivente
Adestrando cidadãos para receberem alta quando se inserem bem no mercado, família e educação burguesas
As universidades no sistema capitalista
Preocupam-se em formar soldados servis à ordem mental, corporal e estética, religiosa do Grande Irmão
Irmão bem mais velho que os úteros de onde viemos
E que nos trata como irmãos caçula e de proveta

Até que no concede um pequeno respeito
Quando nos vestimos "socialmente",
Graduamos na Grade Universitária,
Escrevemos teses para ninguém
E ganhamos muito dinheiro e consumimos sem necessidade e filosofia
Respeito da crítica moral-social, ibope na mídia
Venda de discos sem conteúdo artístico e muito apelo popular
Currículo-curral

Sua noção de direitos autorais, longe do copyleft, é uma afronta à liberdade de expressão, do direito que poderíamos ter de usar de acordo com nossa imaginação e arte outra imagem ou produto



Quando o capitalista descobre a solução de uma doença capital pro povo
Capitaliza a cura, a patenteia de forma a não democratizá-la e torná-la acessível



A moda torna escravos pessoas que deveriam se vestir de acordo com sua autenticidade, não de acordo com os ditames dessa caprichosa dama


A academia nos "ensina" que nossa criatividade, intuição e originalidade
Não existe ou é só um arranjo novo pra velhas idéias balizadas
O Zé Ninguém, denunciado por Wilhelm Reich,
Não se vê na obra que realiza em seu trabalho e constrói coisas que ele não pode desfrutar
Submete-se a um chefe tendo de cumprir uma jornada de trabalho alienante e repetitiva, automatizada e sem subjetividade
E o homem sem subjetividade não passa de um objeto
Se o trabalhador é essencial para a produção
Sem a qual estruturas, propagandas, produtos, fábricas e tecnologias
Não veriam a luz do dia
Por que não pode ele ser considerado um sócio, parceiro, gerente, beneficiário do lucro?
A política no capitalismo reflete a maior falta de caráter
Mesmo nos países mais desenvolvidos
Vemos exemplos como Bush ou Berlusconi,
Que galvanizam popularidade com medidas fisiológicas e demagogas
Apoiando-se num império de mídia, quando podem, como ACM, Collor, Sarney, Cidadãos Kane
Os partidos alternativos têm na TV um espaço medíocre pra expor suas idéias pois o que vale é o espaço adquirido com a tradição do curral eleitoral

O capitalismo não é organizado
É o mais desorganizado sistema
Pois em vez de somar forças as divide e não pensa coletivamente
Mas apenas no próprio umbigo financeiro

No capitalismo se alguém não tem grana é ilegal comer e beber e atender seus direitos básicos
Logo o capitalismo desrespeita o elementar da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Mas alguém com muita grana tem o sagrado direito de desperdiçar toda água e energia do mundo desde que a pague e pague seus impostos
Desde que pague pode lavar todo seu quintal e secar ao sol sua moral
Um sol elétrico e maquinal
Um sol digital

No capitalismo sua sensibilidade é mutilada
Porque a educação que recebe na escola, na igreja, no campo de trabalho, na mídia, na televisão, no rádio, na cultura massificada
Prepara o cidadão pra se comportar como um cão diante de uma tela de frango
Sem reflexão sobre o que consomeo e na maioria das vezes sem poder de adquirir, apenas de fetichizar seus sonhos e objetos de desejo
A educação capitalista não o faz tomar consciência de si e do outro e da natureza
Apenas do medo de deus, do desemprego, de regras medíocres de decoro social, de abstrações científicas ou pseudo-científicas isoladas de um contexto prático e real
E sobretudo, isola do desejo de conhecer por si mesmo, o que queira conhecer, isola do desejo, do prazer, da libido
E da necessidade, das carências íntimas, do tempo certo do ritmo de cada um, da sua criação e sentir

No capitalismo, o sexo é uma mercadoria
Destituído do valor de afetividade´
É vendido em revistas, filmes, pornografia
Homens são educados a ver a mulher como objeto sexual
E mulheres são educadas que seu sexo é uma fonte de poder pra barganhar com o conforto material e o status

O capitalismo precisa adular e alimentar a vaidade do artista, do intelectual, do empresário

Precisa colocá-los num pedestal

São formas de melhor vendê-los para o público
Mitificando a mercadoria, o mercador, o artista
Como se o que fizessem só pudesse ser feitos por eles,
E não por mim e você, que temos todos grande potencial
Inexplorado na educação capitalista que não prioriza a formação do cidadão
E onde a cultura de massa, TV, rádio, jornais, estimulam os baixos instintos e absorção sem reflexão do lazer e dos fatos
Então, mitifica os "fazedores de alguma coisa", a "gente que acontece",
Como se fossem gênios, ou super-homens ou super-eruditos ou super-disciplinados
Coisa que em grande parte não são
E quem sabe, sabe, quem não sabe bate palma
O capitalismo gera uma distância, um fosso, entre artista ou intelectual e o público
E muito dessa mitificação vem da academia
E quando os estudantes tentam criar ou pensr por si mesmos são desestimulados
E quando não criam nem questionam estão batendo palmas com as orelhas
Por serem considerados receptáculos vazios, esponjas do saber autorizado, sem o que dizer, sem competência técnica, sem talento, sem potencial
Aos estudantes só é permitido estudar, discutir e analisar a obra alheia, nunca sua própria contribuição ao enredo gigantesco e fantástico da trama histórica humana
Assim assumem uma baixa estima intelectual e criativa, estimulada pela universidade

Mas quando o trabalhador ou estudante se indigna e resolve se organizar
Geralmente age teleguiado por ideologias e organizações de vocação autoritária, bem verticalizadas, muitas vezes com o nome de comunismo ou sindicato ou DCE ou mesmo MST
Ou dividem-se em grupos de engajados que mais se ocupam de se oporem entre si
Dizendo quem deve conduzir a "revolução", quem é mais apto a tal farsa
Em vez de se unirem pelo que tem em comum:
Uma crítica construtiva ao sistema capitalista
E acabam agindo da mesma forma competitiva e ciumenta e prepotente de quem querem combater
O capitalismo agradece essa "organização"

O capitalismo:
anti-ecológico e anti-vital

Leitura recomendada a todos que não sonham com o estilo capitalista de vida e sua filosofia conservadora:
A Arte de Viver Para as Novas Gerações, de Raoul Vaneigem, um dos cabeças do movimento de contracultura e do Maio de 68 em texto altamente sedutor e poético como raramente se encontra sobre o tema política ou revolução
SKELTER - 4-12-2006

EU DOU É PALA!

D2 diz: "Eu tiro é onda"
Eu digo: "Eu dou é pala!"
Eu dou pala?
O mundo é que dá pala
A humanidade
A caretice
A indiferença
A padronização de comportamento
A melancolia ranzinza
A etiqueta
A anti-ética
Sobretudo a etiqueta
Fardo burocrático pra leveza dos gestos
Se dou pala
Ela é nada frente
Ao voto obrigatório dos analfabetos políticos
Em políticos analfabetos de amor e princípios pra educação
Minha pala é nada
Frente à cultura de massa
Estampada sem licença no volume alto de funk dos carros
Conduzindo a boyada
Minha pala é bobagem
Perto do consumismo, perto do big brother e do coração bandido
Perto da educação que adestra o bem e o mal
Pra não fazer pensar, sentir, nem dizer, nem criar
Nem quesionar o que é dar pala
Rebeldia polêmica? Embriaguez? Atos extremos de românticos ou apaixonados?
Pala pouca é bobagem
Pois assim assado caminha a humanidade:
A polícia dá pala com violência
Apresentadores de TV, artistas brega e a lei anti-drogas
Dão pala em apresentar um pensamento e sentir unidimensionais

Dá pala é sentir no corpo a emoção da música e não fazer nada
Preocupado com a patrulha do olhar alheio

Ter medo é dar pala
A maior pala é se importar com o que pensarão
Não ter atitude e assumir desejos

Personalidades históricas eram pródigas em cometer palas
Por fazer o que ninguém espera de ninguém

Não ser autêntico é dar pala
É EMPALIDECER, é EMPALIDECER
SKELTER - 8-11-2008

quarta-feira, 2 de março de 2011

PARA O DISCÍPULO EU

Vou lhe ensinar a manter o espírito jovem
Vou lhe ensinar a rejuvenescer
Vou lhe ensinar a ter os olhos feito chamas
Acesos feitos brasas
Vou lhe ensinar a ser tranquilo feito uma pluma
Vou lhe ensinar a ser um vampiro ardente de sangue e espuma
Vou lhe ensinar a transitar em meio às fases e quebras
Vou lhe ensinar a queimar imberbe um pasto de cordialidade inócua
Vou lhe ensinar a conquistar e domar um espírito jovem
Vou lhe ensinar a ser da estirpe de Iggy Pop
Um espírito jovem sem uma mácula, sem uma mancha, sem um sangue manchado
Vou lhe ensinar a se purificar
Vou lhe ensinar a radiar uma energia extrema
Vou lhe ensinar a não ter uma pena
Vou lhe ensinar a ser livre como uma chuva
Vou lhe ensinar a ser bravo como uma puma
Vou lhe ensinar a não ter em seu espírito jovem uma ruga, uma falha, uma calvície
Vou lhe ensinar a ser humano e forte
Vou lhe ensinar a ser leve como uma pomba
Vou lhe ensinar a escoar toda a sujeira de seu espírito
A varrer cada canto e cada cômodo da alma
Vou lhe ensinar a ser racional quando preciso  e no mais muito atrevido
Vou lhe ensinar também a ser irracional, libertando-se de toda tralha teórica
Vou lhe ensinar a amar de verdade a vida
Vou lhe ensinar a ser cordial e franco
Com todos aqueles que lhe oferecem um pato
Vou lhe ensinar a voar acima das cabeças
A alturas só imaginadas nos delírios da música
Vou lhe ensinar a ter a tanta presença
Vou lhe ensinar a não ser ansioso
E sobre suas emoções e gestos soberano
Vou lhe ensinar a não ter um pingo de ansiedade
Por outro lado muito desejo e muito gosto por aventura
Vou lhe ensinar a viver em plenitude
Desejo, fantasia, enlevo e calma a cada momento
E aprenderá a não ter de ninguém um pindo de ciúme, inveja
Nem mesmo de alguém mais jovem
Nem mesmo de alguém mais belo
Nem mesmo de alguém mais rico
Nem mesmo de alguém mais respeitado ou amado
Vou lhe ensinar a ter pulso e impulso
Vou lhe ensinar a ser mais jovem do que já é
Vou lhe ensinar a ser mais belo
Vou lhe ensinar a ser mais rico, mais respeitado e amado
Vou lhe ensinar a ter um espírito imaculadamente jovem
Vou lhe ensinar a se sentir novamente com 15 anos
Vou lhe ensinar a paixão e energia e liberdade de uma criança
E um jovem repleto de entusiasmo por jogos de sexo
Vou lhe ensinar o Raw Power, a usar a Força-Bruta, primordial
Vou lhe ensinar a ser irreverente
Vou lhe ensinar a se sentir sempre sempre sempre jovem
E nunca pensar que está envelhecendo
Nem pensar que está desperdiçando um segundo
Vou lhe ensinar um sentimento só seu inigualável
Pleno de uma juventude, entusiasmo, fascínio,
Frescor como nunca sentiu nem com um terço da sua idade
Intensamente homem
Vou lhe ensinar a transitar em todos os trânsitos e trâmites
Por entre os vales de que ninguém desconfia
Vou lhe ensinar a construir sua própria fortaleza
Seu castelo, seu refúgio, seu céu
Vou lhe ensinar a ser intensamente e espontaneamente sexual
Intensamente libido
Intensamente único
Intensamente renovado
Sempre se renovando
Sempre limpando as arestas de seu espírito
E matando impiedoso tudo que se interpõe no seu caminho de uma vida em que não se desperdiça um segundo
Vou lhe ensinar a se sentir o único de sua espécie
Criatura viva e cheia de encanto e carisma e poder pessoal
Sedutora e receptiva de mágica, feitiço e delíro
Sempre em descoberta e redescoberta da vida, de seus próprios sentidos e possibilidades
Sentidos amplificados
Vou lhe ensinar até mesmo a respirar com consciência
A meditar em ação
A ter na intuição o sentido mais querido
A ver nas coincidências significados reveladores
Vou lhe ensinar a nunca ter angústia
Ou preocupação
Ou pesar
Ou desconforto
Ou pressão
Vou lhe ensinar a ser cada vez mais pleno de vigor e vida e beleza e fascínio e redescoberta
Vou lhe ensinar a se sentir mais jovem que em sua adolescência
Mais aventureiro, explorador, ardente que em seus sonhos
Vou lhe ensinar a amplificar sua visão de vida, valores e desejos
Vou lhe ensinar a abrir portas para o além de si mesmo
Para um êxtase em se saber vivo
Vou lhe ensinar a se sentir orgulhoso de sua natureza
E de ser parte da natureza que a cada dia amadurece como fruta na estação,
como crias que se emancipam,
como pássaros que retornam ao descanso do vôo
Vou lhe ensinar a ser orgulhoso de sua naturalidade
De sua existência
De poder dizer e expressar exatamente o que tem a expressar e dizer
De existir em sua múltipla forma
Vou lhe ensinar a respirar o melhor dos ares
A encher os pulmões
Vou lhe ensinar um vôo
Vou lhe ensinar a se sentir desobstruído
No ar que respira
Por dentro
Por fora
Em vida
Vou lhe ensinar a sempre redescobrir a vida
A libertar-se de toda sua poeira, de todas as suas portas
A ser um desbravador
Conquistador
Descobridor de 7 mares
Vou lhe ensinar a ser largo e intenso
Vou lhe ensinar a ser fartamente generoso com sua própria vida
Vou lhe ensinar a ser pródigo de vivências maliciosas
Vou lhe ensinar a ter uma vida mais interessante que um filme ou um romance
Nenhum filme ou romance será suficiente para resgatar a intensidade de um dia de sua vida no redemoinho de seus gestos, pensamentos, palavras e sentimentos
Vou lhe ensinar a arejar a sombra de seu espírito
Vou lhe ensinar a ser esperto e auto-confiante
Vou lhe ensinar uma companhia melhor que a melancolia e a fadiga
Vou lhe ensinar a ser uma tranquila e centrada máquina de guerra
Um animal guerreiro e libidinoso
Sem divisões internas, sem muros por dentro, erguidos de tijolos de culpa, medo, cobrança, moral, sentimentalismo e senso de ridículo
Sem se sentir ridículo quando dança,
Quando expressa sensualidade,
Quando é espontâneo ou mesmo infantil
Vou lhe ensinar a não ter considerações graves
Por tudo que não importa
Vou lhe ensinar que tudo que vem do humano é arbitrário e parcial e a conjugar sua própria lei e seu próprio tribunal
Sua própria balança, sua própria sentença
Vou lhe ensinar a ser mais sensível
A encontrar sua veia artística
Vou lhe ensinar a ser duro como a vida
E suave como a morte
Vou lhe ensinar a oração suave e prenhe de improvisos do Aqui-Agora
A criar sua própria oração e ritual
A viver e deixar viver
A morrer e deixar morrer
A renascer e deixar florir
A criar seu próprio evangelho
Sua própria mística, religião
Vou lhe ensinar a não pensar muito antes de agir e a sentir muito
A ser ágil sem desperdício de movimento como um samurai boêmio
Vou lhe ensinar a lei do menor esforço, da menor tensão
De como encontrar e explorar atalhos
A gostar mais de si e se admirar mais que de qualquer pessoa ou ídolo
A gostar mais de si que de qualquer ideal de si
Vou lhe ensinar a dilatar suas narinas
A ser sensual e zen como um gato
A ser surrealisticamente realista
A não entrar em nenhum conflito desnecessário ou que tenha de perder
Vou lhe ensinar a respeitar limites
O momento de ser gentil e o momento de ser intolerante
Vou lhe ensinar a ser seletivo
Vou lhe ensinar a aceitar e bendizer o templo sagrado do seu corpo
Vou lhe ensinar a ser macho e fêmea
A explorar os gêneros em si sem nenhum pudor ou preconceito
Vou lhe ensinar a se sentir superior
A se permitir ser você mesmo
Enquanto todos se debatem com seus anjos e demônios
Vou lhe ensinar a casar seu céu e seu inferno
Vou lhe ensinar a ser seu próprio deus
A ter tanta ou mais soberania pra si que um país
A conciliar esporte e ludismo
Trabalho e conforto, prazer
Responsabilidade e transgressão
A trazer á tona o inconsciente
A ser erotizado
A assumir seu deus interno

SKELTER - 27-9-2004

PULSAÇÃO E EXPRESSÃO

I.

Passou, importa o passado?
Não veio, convem o futuro?
Colher da experiência o fruto
Semear à próxima colheita
Irradiar o que sente e pensa
O pensar e o sentir            urgem-se no presente
Viver é entregar-se           corpo e alma ao processo
Que importa tudo             finda-se de repente
Um dia e não mais será
Preocupar não fará diferença
Viver é conectar  - sereno - ao processo

II.

Viver plenamente
É um mover ponderado
Pêndulo
                 ACEITAR
coisas
            MUDAR
outras

SKELTER - maio de 2004

terça-feira, 1 de março de 2011

TRISTEZZA

Tristezza
Tristezza
Na mor solidão
Tristezza
Tristezza
Não tem comunhão
Tristezza
Tristezza
Também depressão
Tristezza
Tristezza
Sem costela de Adão

Sexta-feira na fila da disco
Richards desfilava seu furgão
Lena fita rosa no cabelo
Gordon tinha ataque convulsão

Tristezza
Tristezza
Não tem violão
Tristezza
Tristezza
Sem riff sem refrão
Tristezza
Não tem um tostão
Tristezza
Ninguém compaixão

Sábado na fila do cinema
Johnny era a maior curtição
Rita tava na maior bandeira
Alf se escorria pelo chão

Tristezza
Tristezza
Verão, não vai ver verão
Tristezza
Tristezza
Está na janela
Tristezza
Tristezza
Queria uma lambreta
Tristezza
Tristezza
Só pensa nela
Tristezza
Tristezza
Ele não é tão belo

Domingo lanchonete lá na Barra
Cornelius desfilava em seu topete
Grace tava de saia rodada
Graciano enfia a testa no sorvete

Tristezza
Tristezza
Não come ninguém
Tristezza
Tristezza
Não vai ficar zen
Tristezza
Tristezza
Está na cama
Tristezza
Tristezza
Não sai da lama

Segunda-feira na fila merenda
Todo dia lembra só engorda
Assim q passa a sua semana
Seu amor nem sabe que suspira

Tristezza
Tristezza
5 contra 1
Tristezza
Tristezza
Não tem amigo nenhum
Tristezza
Tristezza
Está na fossa
Tristezza
Tristezza
Alô Bossa Nova


SKELTER - 17-8-10