domingo, 27 de fevereiro de 2011

SAUDADE DAS MULHERES

Tenho saudade das mulheres
A saudade dos presidiários e soldados longe do lar
A saudade dos eunucos, dos impotentes e tetraplégicos
A saudade dos privados de algum sentido capital, ainda que o sexo
A saudade dos padres quando são inconscientemente traídos em sonho erótico
A saudade dos coroinhas solitários pecando nos banheiros
Com medo de deus e dos dedos duros de deus
A saudade das freiras ao ter diante de si um homem nobre que exala força e carisma
Mas cujo amor está votado unicamente para deus
A saudade dos poetas errantes e pobres que transpiram cachaça e cigarro contemplando desolados as meninas bem vestidas e sorridentes que passam ignorando  monumentalmente sua aflição
Sua pena de poeta
Pena de poeta
A saudade dos trovadores byronianos que suspiram de amor apenas por aquela eleita musa lânguida, alva, nobre e inacessível
A saudade dos adolescentes cheios de hormônios
Mas que não sendo chefes de rebanhos medíocres  refugiam-se no olho e na mão diante do PC à espera patética de uma tecnologia que torne o virtual cada vez mais crível
A saudade do plebeu apaixonado pela sofisticada que o despreza como um subalterno e animal
A saudade dos trabalhadores sem status nem chave de carro nem xavecos estúpidos que se contentam com buscar alívio numa relação simplista com uma barata e fria, cronometrada prostituta
Com quem tem uma estranha relação sem beijo
E cujo orgasmo é quase um despejo e uma ressaca moral e uma mijada
Uma bomba-relógio: "10 minutos já passou, goze logo, não deixe rastro!"
A saudade dos homens mau casados que se mantém fiéis a suas mulheres frígidas
E a saudade dos velhos que sentem que não curtiram o suficiente os prazeres do amor e da carne na juventude
Sim, tenho saudade das mulheres

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