segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

INDIGNAÇÃO - texto divulgado quando trabalhava como funcionário público

Esse pessoal do trabalho é chato
Não dizem nada de útil
Povinho fútil
NÃO SOU SANTO NEM PECADOR
Integralmente nem bom nem mau exemplo
Não busco modelo nem faço questão de sê-lo
Mas exijo respeito
ESPREMER NÃO SAI UMA PALAVRA BOA DA BOCA DESSA CORJA
E são psicólogos, formados em serviço social, estudante de direito
E só dizem bobagem, fofoca, vacuidade
Uma vida sutil e preciosa pela frente
E só desperdiçam alfabeto
Comem como porcos
Falam como porcos, hienas, periquitos e corvos
Não estou nem aí pro otimismo e as roupas claras dessa garota
Comungando com a vacuidade
Sorrindo em meio a insetos
Mas está em um grau pelo menos - acima dos outros
Assim como aquele homem de trinta e tantos
E espírito humorado, jovem, tirador de sarrro
Embora estejam todos inseridos na lama
Em maior ou menor grau
E bem mais do que eu - estão comungando da lama
Em vez de se diferenciarem dela
Seus papos giram em torno de amenidades
Como quem estava bêbado na festa passada
Quem parece gay enrustido
Uma novela - televisiva ou da "real" reles vida
-"cê viu quem fulano tá namorando?"
Como se não tivessem vida própria, como se só consumissem a massificação
em sua encarnação mais plena e plástica
Um futebol, a roupa e sapatos novos
Detalhes sobre o churrasco, receita de pudim, investimentos
O lazer de cabresto da TV, da rádio FM e da global imprensa amarela
Cheia de falsas cores de revolta e de plástica alegria com novidades sentimentais
Uma estranha atividade de gastar palavras ao vácuo
Sem realmente estarem dizendo nada um ao outro
Rizadas macabras pipocam de lado a lado
Têm um senso de humor sujo e medíocre
Coisa de hiena, de corvos, de papagaios
Palavras negativas de cansaço e tristeza e acidente, notícia ruim
Poluem mais a sintonia do ambiente
E as pessoas ouvem, digerem com seu café da manhã, consentem e dão linha
Sintonizadas com a baixa frequência dessas relações, pensamentos, comunicação
Mesmo se tratando de pessoas um pouco mais sensíveis, ou um pouco mais críticas ou cultas
Parecem estar todos com medo
Querendo segurança, se amesquinhando socialmente
Se comportando em bando
Empinando orelhas, firmando olhares
Para assuntos banais e improdutivos de diretores de recursos humanos
E diretores disso e daquilo
E funcionários com tantos anos de casa
MAIS OU MENOS COMO FAZEM OU FIZERAM
Na escola diante dos professores
Em casa diante dos pais
Nas ruas com pessoas mais populares
Ou diante de "autoridades" espirituais
E EU TODOS OS DIAS ME CHATEIO COM ELES
Ficando em silêncio a maior parte do tempo
Desejando estar em outro lugar,
Com uma atividade e um convívio menos medíocres
O salário até podia ser menor
ESTOU EU AQUI ESCREVENDO ESSSAS LINHAS DE INDIGNAÇÃO
Na primeira hora do horário de segunda
Bebi um pouco à noite
Me senti bem
Dormi pouco num sofá na casa de um cara
Mas levantei disposto
O álcool me faz pensar que é mais fácil
Lidar com a rotina, com as pessoas, com esse asco
Ambiente poluído - física e humanamente
Sem ter de esquentar a cuca
Take it easy
Mas soltando os sentimentos
Como faço no papel
Como faço ao asssobiar discretamente em meio ao café com a plebe graduada
Como faço ao pisar no chão com
Espontânea agressividade e desprezo
Cheguei a pensar que pode ser interessante
Beber ou fumar um beck antes de vir ao trabalho
Pra suportar e temperar a merda que descarrega esse povo
E essa rotina, que não sendo ociosidade, tesão e  sentimento
Somos um monte de ferramentas
COZINHEIRAS COROAS E IDIOTAS, PROVAVELMENTE COM MEDO
E filhos em casa
Além de preparem o café
Fazem questão de subir escadas
E deixar a ração de mão beijada
Para seus superiores
NÃO QUERO TER 1/3 DO MEU DIA, 1/2 DO DIA ACORDADO
Convertido em ferramenta
E comungando com mediocridade resignada
ou indignação abafada
Olhos ficando com o tempo
Melancólicos e doces e piedosos
Ou os músculos perto do nariz e da boca vincados em suco
Pele mais oleosa ou áspera
Fronte de músculos tensionada
Tosse comprimida com a mão na boca
Contendo polidamente coceira e vontade de cuspir
Domando o tom de voz
"Bom dia" cordial e um tanto estratégico
"Bom fim de semana", sincero e feliz
Por afastar-se de certas caras e tarefas
Vislumbrando tênue liberdade de quase 48 horas
QUERO TER MINHA JUVENTUDE ENRIQUECIDA,
Não drenada em um serviço sonífero e burocrático
Não quero terminar o expediente cansado demais pra viver
Ou pensando no cedo do dia seguinte

SKELTER 21-11-5

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