segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

MINHA AMIGA, A FEBRE

Me exime de toda penalidade
Me faz retomar a infância
Com ela recebo os últimos cuidados
De quem em breve receberá meus derradeiros
Estar perdido na cama, entregue
Enquanto os outros se perdem - em triviais labutas
Ah doce infância, em que de outros me depositava na confiança
O mundo familiar girando ao meu redor
Resgato uma inocência, me liberto de todo julgamento
E de toda decisão apressada,
De todo suor roubado
Deitado no leito estou no meu trono
Sinto o mundo se importar comigo
Nunca existi tanto no coração das pessoas
Quanto nos cuidados disciplinados que ora recebo

Ouço a música suave que me remete a férias idílicas
Leio sem compromisso revistas e livros disponíveis
A TV me deixa novidades de um mundo em que não mais participo
Posso saber das coisas sem interferir em seu rumo

Estou de férias do mundo do estressse, das mãos dadas em marcha
Da prontidão alerta de sorrisos, do raciocínio empertigado em aulas,
Da vida mecânica em meio ao relógio e homens de gravata

Posso asssim desvelar minha tristeza
Sentimentos e aura desarmados
Me encontro nu em um olhar melancólico e quente
Não é preciso endireitar os ombros
Não há prática em empostar a voz
Pode ser fatal iludir a um bem estar retórico

A febre me traz saudoso calor
Que se perdeu das relações dos homens
E suas dores me trazem mais compensações
Que as penas voluntárias do ofício

SKELTER - 2-6-2005

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