segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

DOLORES " MALEDETO " - AMOR QUE NÃO SE REDIME ou AMOR A UMA PROSTITUTA

O amor de uma figura marginal e socialista é uma puta. De vários nomes. Várias espécies. E várias esquinas. Que cobra a quantia que o pobre operário poupou de sua pinga. Que cobra o pedágio do ladrão. Que cobra um destroçado coração. Espremido, entre palavras cândidas, selvagens, tenta xavecá-la antes, durante, depois... Até que já apressada se encontra a senhora para atender outros joões, sôfregos de desejo latejante e coração na surdina, na sarjeta.

Jurema, Joaquina, Madalena, Maria. Nomes que tenta advinhar. Por trás de Brigite, Jane, Sharon, Madonna

O sexo apressado, mal feito: “ Mais um minuto só ” diz a bela rapariga, “ Mais uma eternidade SÓ ”, clama o órfão à rapariga com que se desmancha

Vai embora sem porto, sem vontade de chegar em casa. Sem revolução, sem oração. E um só desejo:

Tornar àquela que o feriu. Que o marcou. Àquela em que desaguou seu corpo e alma. Àquela que o permitiu por um instante perder os sentidos quando, sem direito a cigarro pós-amor, ouve ela dizer:

“ Pague agora, tem cliente esperando ”

Mês que vem ele volta, pra viver mais um capítulo desse amor clandestino, imaginário, caminhando por entre ruas duras de pedra. Ossos do ofício desse coração sufocando os ciúmes de homens vários que valem menos para ela que um vestido.

Será que outros, além de despejar seus dejetos,têm desejos secretos como os dele? De levá-la a um altar. De fazê-la mudar de vida. De dar-lhe um filho.E um lar...

Mas ele sabe que ela não quer. Já o segredou: “ Uma vez da vida, sempre da vida ”. Vendo ela irredutível, ele ainda tenta conciliar:

“ Serás minha. E ao mesmo tempo rainha. Não do baixo meretriz, não dos bossais. Mas dos barões, empresários, artistas ”

Em nome de seu amor, ela a conduz a outros mercados. Mas depois de saciarem a carne, os burgueses ofertam a bela o coração que um dia ele lhe ofertou. E ela cede, deixando este que um dia tentou “ redimi-la ”, tal qual no conto do escorpião que o animal deu carona pra atravessar o rio, enganando-se que por gratidão, este não o picaria.

E ela, com um homem de prestígio, bem que tenta abandonar “ a vida ”, mas torna a ela como a um vício ou identidade, tal como criança com sua fantasia predileta. Mas agora em novo patamar. Agora a um preço inacessível para o salário do maldito. Quem sabe ele possa namorá-la nas colunas sociais, dizendo para outros malditos, quando já embriagado, com uma ponta de orgulho:

“ Olha, essa era a minha pequena
Que rifou meu coração
E cumpriu a sua sina ”

Hoje seu quarto tem outra dona. E outros corações despedaçados. E depois de ter seu coração em quarentena, lá torna para reviver um fragmento do seu grande amor, essa figura marginal e socialista.

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