Mais um carnaval não vivido
Como uma colheita ceifada por insetos
Mais uma celebração sem registro da memória
Não por embriaguez ou vergonha
Noites de luxúria e álcool derramadas lá fora
Nenhum consolo que não o de estudos e viagens insanas,
sóbrias
Nenhum beijo partido, roubado, seqüenciado
O tempo passando tão devagar que assusta olhar pra trás
Ver que tantos carnavais somam-se com o estigma da solidão
Desejos reprimidos contabilizam quantas festas vindouras
restam
Para ter saúde pra brincar de se estragar,
Em uma explosão dos sentidos: noites não dormidas: tudo é
permitido
Hoje nada lhe é permitido
Só uma data para folgar e invejar Arlequim
Enquanto um mundo maquina liberdades e libidos
Antes, crítico, preferia denunciar redundante que o rei
dessa festa pagã está nu
Hoje, como criança carente, faz um carinho tóxico em si
mesmo, cru
E constata, desajeitado em seu consolo,
Que o tempo ainda não irá corroer sua face de menino
Nas festas de um amanhã
Carnaval perdido